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de boca cheia
Um Banquete de Sabores e Histórias
Quem já enfrentou um cachorro-quente paulistano sabe que aquilo não é um lanche, é uma experiência.
De Boca Cheia
São Paulo cabe em um prato – ou em muitos. Do pastel da feira ao PF do boteco, do café coado em balcão estreito às fusões improváveis da cozinha de rua, cada esquina serve um pedaço da cidade. No “De Boca Cheia”, Frei e-uBer saboreia o que há de bom, barato e memorável na gastronomia paulistana, descobrindo quitutes, lugares e histórias de quem cozinha para alimentar não só o corpo, mas também a alma.
A cidade de São Paulo não cabe em um mapa, muito menos em um único prato. É uma cidade que se prova aos poucos, um banquete sem fim de contrastes, temperos e narrativas. Aqui, cada esquina é um convite, cada boteco tem um segredo e cada feira livre é uma explosão de cheiros e cores. Foi nessa mistura vibrante que nasceu o De Boca Cheia, um projeto onde eu, Frei e-uBer, me transformo em explorador gastronômico ~ ou, como os amigos dizem, um “garfo sem fronteiras”.
Tudo começou em uma manhã de domingo, naquele ritual quase sagrado da feira de rua. O sol castigava o asfalto, enquanto o ar se impregnava com o aroma doce das frutas maduras e o crepitar da fritura no óleo quente. Diante de uma barraca de pastel, presenciei um espetáculo raro: mãos ágeis, gestos precisos, massa aberta na hora, recheio farto, bordas cuidadosamente seladas com um garfo ~ um detalhe cada vez mais incomum, já que muitas pastelarias optam por versões pré-prontas. Em poucos minutos, uma joia dourada e crocante surgiu. Dei a primeira mordida e, naquele instante, só consegui pensar: pastel sabor ‘Baião de Dois’, como algo tão simples pode ser tão extraordinário?
Foi ali que entendi: São Paulo não precisa de firulas para ser saborosa. Ela já nasce gourmet em cada coxinha de boteco, em cada pão na chapa servido com café coado, em cada PF equilibrado no prato de inox, acompanhado de uma generosa concha de feijão bem temperado.
Prato Feito, História Feita
Mas De Boca Cheia não é só sobre comer ~ embora essa seja, sem dúvida, a parte mais saborosa. É sobre as histórias que cada prato carrega. Como a de Dona Maria, que há três décadas comanda um restaurante simples no Centro, um clássico Pé pra Fora, onde o aroma do tempero caseiro se mistura ao burburinho da cidade. Seus PFs não alimentam apenas o estômago, mas também sonhos. Entre uma colher de arroz e outra de feijão, ela me contou que veio de Minas com um propósito: dar aos filhos um futuro melhor. Hoje, dois deles são médicos, mas ela segue firme atrás do balcão, temperando não só a comida, mas a vida de quem cruza seu caminho.
E a rua? Ah, a rua tem um cardápio infinito. Quem já enfrentou um cachorro-quente paulistano sabe que aquilo não é um lanche, é uma experiência. Purê de batata, vinagrete, milho, queijo ralado, batata palha, molho ~ e sim, tem salsicha também, escondida no meio desse caos saboroso. Parece exagerado? Bem-vindo a São Paulo, onde o excesso é sempre bem-vindo, desde que tenha sabor.
Outro dia, me deparei com um food truck vendendo esfirras recheadas com carne de jaca e molho de pimenta artesanal. Estranhei. Hesitei. Mas na primeira mordida, entendi tudo. O chef, um jovem cheio de ideias, me explicou que queria criar uma opção vegana sem perder o sabor de “comida de verdade”. E conseguiu. Até um carnívoro convicto como eu saiu dali rendido.
Entre Descobertas e Desafios
Nem tudo, claro, são temperos e alegrias. Minha busca gastronômica já me levou a aventuras menos felizes ~ como aquele sanduíche de pernil que parecia promissor, até o molho entrar em cena e fazer meu estômago protestar por dias. Mas faz parte do jogo. Como dizem por aí, quem não arrisca, não petisca.
O que mais me fascina nessa jornada é perceber como a comida nos conecta. No De Boca Cheia, já dividi mesa com engravatados, artistas de rua, estudantes, aposentados e até um vira-lata sortudo, que soube escolher o restaurante certo para esperar um pedaço de pão cair. Em um mundo repleto de diferenças, a comida é uma ponte. E em São Paulo, ela fala todas as línguas.
Então, se um dia me encontrar por aí, com um prato na mão e um sorriso no rosto, saiba que estou apenas fazendo o que mais gosto: desbravando os sabores da cidade e colecionando histórias. Porque São Paulo pode não caber em um prato ~ mas cada prato carrega um pedaço dela. E, no fim das contas, essa é a essência da cidade: gente, sonho e muita, muita fome. Afinal, São Paulo nunca para.
E, felizmente, nem eu.
Até a próxima corrida!
