Se em 1979 o Supertramp cantasse “When I was young, I’d listen to podcasts e fizesse lives no Instagram” , talvez ninguém tivesse estranhado. Afinal, The Logical Song não é só uma balada com sintetizador melancólico ~ é um manual de sobrevivência para o século XXI , disfarçado de rock progressivo. O refrão “So pay attention now, I’m telling you how I feel” [Então preste atenção agora, estou lhe dizendo como me sinto] soa hoje como um alerta pré-histórico para quem tenta manter a sanidade num mundo onde até seu avô posta stories sobre política e gatos engraçados.
Vamos aos fatos: a música fala de um adolescente educado para ser lógico, eficiente e politicamente correto , mas que, ao crescer, percebe que o sistema é uma farsa. Soa familiar? Pois é. Hoje, somos todos ex-alunos desse “colégio” descrito na letra, só que o diploma é um perfil no LinkedIn e a reprovação é um tweet cancelado. A internet, nossa nova escola, nos ensina a pensar rápido, reagir mais rápido ainda e, de preferência, nunca discordar ~ afinal, quem quer ser chamado de “irracional” num universo onde até um like pode virar um debate ideológico?
E aí entra a parte mais hilária: a crítica à educação racionalista da música se atualizou. Agora, não somos só ensinados a “pensar direito” ~ somos programados por algoritmos. O Instagram, nosso novo professor, nos ensina a dançar, a cozinhar e a opinar sobre geopolítica em 15 segundos. O resultado? Uma geração que domina o português, o inglês e as ‘slang’ do metaverso, mas não sabe explicar por que chorou vendo um meme de gato. É a versão 2.0 do verso “They filled my head with numbers, they taught me how to lie” [Eles encheram minha cabeça de números, me ensinaram a mentir]. Só que agora, os números são os de engajamento, e a mentira é acreditar que estamos felizes com 10k de curtidas.
Ah, e o “adolescente” da letra? Ele não só sobreviveu ~ evoluiu . Virou um adulto que compra roupas por influência de influenciadores, questiona sua existência diante de um filtro do Instagram e acha que “desconectar” é algo que se faz no modo avião. A música pergunta “Who am I?” [Quem sou eu?] ; hoje, respondemos com uma bio de Twitter cheia de emojis de constelação e café.
Mas, ironicamente, é essa crise identitária que mantém a música viva. Enquanto os jovens de 1979 se perguntavam se eram “injustos”, hoje nos questionamos se somos “algorítmicos demais”. E a resposta, como diria o Supertramp, está em não levar a lógica tão a sério. Ou seja: curta o hit, mas não acredite que a vida precisa caber em uma caixa de comentários.
P.S.: Se o robozinho da sua rede social recomendou essa crônica, é sinal de que até máquinas sabem que precisamos de um pouco de ilógica para sobreviver.