então… Eu dormi abraçado ao pesadelo da segunda divisão, daquele sábado pra domingo em que a insônia vinha com o barulho de cada meme, cada provocação, cada “acabou pro Santos”. Acordei meio azedo, confesso. Mas o domingo ~ ah, o domingo ~ fechou com a chave que só o Peixe sabe carregar: vaga carimbada na Sul-Americana. E, de quebra, aquela visão apetitosa dos meus maiores detratores ficando para trás, ofegantes, sem conseguir acompanhar o rastro de história que o Santos deixa até quando tropeça.
A Vila Belmiro… essa sim é o coração pulsando do futebol. É templo, é relíquia, é mais que um estádio: é onde Pelé se transformou em mito diante de olhos que nem imaginavam estar testemunhando o nascimento de um universo novo. É chão sagrado. É patrimônio afetivo de todo torcedor que sabe que futebol é memória, é encanto, é herança. Mas tem gente que insiste em viver na lógica pequena de planilha: números frios, opiniões tortas, argumentos de quem não entende que o Santos não é clube ~ é Patrimônio Histórico. E Patrimônio Histórico não se apequena.
Os vascaínos repetiam com convicção de profeta: “O melhor pro Santos é virar SAF”. Como se a salvação viesse de um CNPJ brilhando. Os corintianos, generosos na soberba alheia, juravam que cair pela segunda vez faria o Peixe aprender humildade ~ como se humildade tivesse endereço no Parque São Jorge. Agora, ao fim da 38ª rodada, dou uma respirada funda, olho a tabela e me deparo com poesia: Vasco fora de competição internacional; Corinthians com míseros 13 pontos e flertando sem pudor com a zona; e o meu Santos avançando, respirando alto, batendo no peito, dizendo “tô vivo”.
Eu nem ia falar dos palmeirenses, juro. Mas eles pedem, provocam, cutucam como quem tá com tempo sobrando. Com o maior caixa do país ~ ah, e a tal da Lei-lá que vive sendo citada como mantra ~ com toda estratégia financeira, toda pose de clube-empresa sem ser, 2025 foi um ano de finanças empinadas… e conquistas de bolso vazio. Nem título, nem experiência adquirida, nem lição de moral pra contar. Dinheiro não compra taça, e muito menos narrativa.
Também não me iludo: escapar da segundona não é troféu. Não deveria ser. É só dignidade mínima ~ ainda que muitos por aí tenham falhado nessa aritmética simples. A esses, deixo um abraço apertado e a torcida pra que 2026 seja menos cruel.
E sigo acreditando: com ou sem Neymar, o Santos ainda vai brilhar. Porque, no fim das contas, nos falta o Caixa dos Consignados do Palmeiras, nos falta a empáfia do Vasco, nos falta ~ graças aos céus ~ a soberba alvinegra de quem não admite ser menor que o Peixe. Falta tudo isso, mas sobra identidade. Sobra história. Sobra camisa.
E aí descubro uma coisa curiosa: entre planilhas, palpites e promessas vazias, subir ou cair vira quase detalhe. Porque os verdadeiros campeões são esses que sabem driblar a vergonha com a mesma maestria com que driblamos a esperança todas as vezes em que ela tenta escorregar do nosso pé. Enquanto isso, eles seguem presos no VAR da vida, buscando linha imaginária pra validar os próprios absurdos ~ e mesmo assim errando a checagem.
O Peixe? O Peixe segue. Sempre segue. E quando segue, incomoda. É da nossa natureza.
