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“Em São Paulo, todo mundo é protagonista. Até aquele sujeito que correu com um guarda-chuva na mão, sem saber que acabou de virar arte..”
A cidade é um negativo de histórias esperando a luz certa para se revelar. No “Cidade Revelada”, Frei traz a São Paulo capturada pelas lentes dos fotógrafos de rua, dos amadores que clicam o instante e dos olhares que eternizam o improvável. Aqui, a fotografia é mais do que registro ~ é leitura, é afeto, é um jeito de ver o que muitas vezes passa despercebido.
São Paulo é aquela cidade que nunca pisa no freio. Vive em alta velocidade, dividida entre metrô lotado, trânsito caótico, mil compromissos e uma eterna disputa contra o relógio. Mas, de vez em quando, quase sem querer, ela desacelera. E é nesse instante raro que os fotógrafos de rua entram em cena ~ verdadeiros caçadores de momentos que, num clique, capturam a alma efêmera da metrópole.
Foi pensando nisso que Frei e-uBer [sim, ele mesmo, o cara que mistura espiritualidade, tecnologia e uma pitada de sarcasmo] lançou o Cidade Revelada. Mas esqueça os cartões-postais e os prédios imponentes. Aqui, São Paulo se revela nas pequenas histórias escondidas no meio do caos: um reflexo inesperado na poça d’água, um abraço perdido na pressa, um grafite que sussurra poesia em um muro qualquer.
Imagine a cena: um fotógrafo parado na Avenida Paulista, câmera na mão, esperando aquele instante único. De repente, um senhor de chapéu e guarda-chuva corre para escapar de um jato d’água inesperado. Click! Pronto. Em menos de um segundo, um fragmento de São Paulo foi eternizado. E o melhor? Agora ele conta uma história.
O Frei diz que fotografia, no Cidade Revelada, não é só um registro ~ é uma tradução. Cada imagem é uma página de um livro que a cidade escreve diariamente, mas que poucos param para ler. E São Paulo é uma escritora prolífica: produz drama, comédia, suspense, romance e até um pouco de ficção científica [quem nunca viu um ônibus “flutuando” na enchente da Marginal?].
Mas o que mais impressiona no projeto não é a técnica, e sim o afeto. Fotografar São Paulo não é apenas apertar um botão, é enxergar beleza onde a pressa normalmente cega. É ver poesia no grafite encoberto por cartazes de aluga-se, encanto no ambulante vendendo guarda-chuva em dia de sol e magia no céu cinza que, de repente, se rasga num raio de luz.
E tem mais: Cidade Revelada é um convite para um novo olhar. No dia a dia, nos acostumamos a ignorar a cidade. O fotógrafo de rua, por outro lado, tem o poder de congelar o tempo. Ele nos mostra o que deixamos passar. E, ao compartilhar suas fotos, é como se sussurrasse: “Ei, olha só o que você está perdendo!”
Claro que fotografar São Paulo tem seus desafios. Já tentou parar no meio da calçada para registrar um pássaro no fio elétrico sem ser atropelado por uma multidão apressada? Ou explicar para um motoboy que ele acabou de arruinar o clique perfeito? Mas, como diz Frei e-uBer, “fotografar é um ato de fé”. E, em São Paulo, ter fé significa acreditar no instante certo, no ângulo ideal e, acima de tudo, na paciência.
No fim das contas, Cidade Revelada é mais que um projeto ~ é uma forma de ver o mundo. Ou melhor, de ver São Paulo. Porque, entre buzinas, passos apressados e prédios cinzentos, sempre existe um instante que vale ser guardado.
E quem sabe, se você desacelerar por um segundo, não seja justamente você o próximo clique? Em São Paulo, todo mundo é protagonista. Até aquele sujeito que correu com um guarda-chuva na mão, sem saber que acabou de virar arte.
Afinal, São Paulo nunca para.
E, felizmente, nem eu.
Até a próxima corrida!